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DE REPENTE...


DE REPENTE...

De repente sinto medo,
da insegurança do mundo
que me cerca de grades...
e me transforma num prisioneiro...

De repente sinto muita raiva
desses políticos imundos,
mentirosos, venais, vagabundos...

De repente sinto pena
desses pobres inocentes
vitimas de balas perdidas...
que morrem sem saber por quê
todos os dias nas ruas e avenidas...

De repente sinto um ódio imenso
dos traficantes de drogas
exploradores de menores
pobres e indefesas criaturas
infelizes moradores de guetos
e favelas nas grandes cidades

De repente sinto imensa pena
dos dependentes da assistência médica
dos falidos planos de saúde oficiais
Que morrem sem atendimento,
depois de horas infindáveis de espera
nas filas dos hospitais...

De repente sinto algo estranho
que não sei como definir
Que me deixa muito triste
e sem vontade de sorrir...

De repente...
Apenas de repente...
paro, também indefeso,
por não poder em nada mais
ACREDITAR...

OUTONO EM NEW YORK


OUTONO EM NOVA IORQUE


Era Outono em Nova Iorque, uma tarde luminosa, temperatura amena.
Encontrava-me no Central Park, contemplando distraidamente o multicolorido das folhas nas árvores – tons variados de amarelo, marrom, violeta – quando, de repente, ao desviar os olhos para os transeuntes, eu a vi, de costas, à meia distância. Será mesmo ela, pensei. O que faço? Sem mais hesitação procurei alcança-la e, quando me aproximei o bastante toquei de leve em seu ombro. Ela virou-se e...que decepção, não era quem eu imaginara que fosse. Pedi-lhe desculpas, meio desajeitado, expliquei que a tinha tomado por outra pessoa que conhecera no verão passado. Ela apenas sorriu e seguiu seu caminho.
Fiquei ali, por uns momentos, e sem que me desse conta, meu pensamento voltou no tempo e comecei a relembrar:
“Foi numa noite do verão passado, quente e úmida como costuma ser essa estação nesta cidade. Encontrava-me num bar repleto de pessoas que, como eu, buscavam conforto no ar condicionado do lugar e na bebida gelada. Encostado no balcão saboreava placidamente meu drinque quando, subitamente, ouvi alguém pedir um “ gin and tonic, please”... Aquela voz suave e o perfume que a seguiu atingiram-se em cheio. Virei-me lentamente, procurando controlar minha ansiedade, e então eu a vi. Tinha olhos de um azul profundo contrastando lindamente com sua tez morena clara, cabelos castanhos ondulados que lhe caiam sobre os ombros com charmosa displicência. Afastei-me um pouco, abrindo espaço que permitisse a ela se acomodar ao meu lado. Fingi que não a observava. Então percebi que ela tentava inutilmente acender um cigarro, seu isqueiro falhava sem parar. Ofereci-lhe o meu, ela aceitou e agradeceu com um sorriso lindo. Começamos a conversar sobre amenidades, notei que, como eu, ela também estava tensa. Aos poucos fomos nos soltando e trocamos olhares nervosos, mas comprometedores. O zum-zum-zum era enorme, ela falava baixinho obrigando-me a aproximar-me mais e mais pra poder ouvi-la melhor.
Disse que era advogada e que trabalhava num dos grandes escritórios de advocacia da cidade.Sua voz soava aos meus ouvidos com uma melodia suave e harmoniosa. Nessa altura o bar parecia que tinha se esvaziado. Eu não via mais ninguém, só ela. Estávamos, ambos, envolvidos por uma atração recíproca indisfarçável e nossos olhares já não mais escondiam isso. Foi quando ela sugeriu que saíssemos dali, para um lugar onde tivéssemos mais privacidade. (Eu morava perto de onde estávamos, havia dito isso a ela no curso de nossa conversa). Então, arrisquei: “Meu apartamento?” Ela hesitou, mas por um segundo apenas.
No trajeto, mal nos falamos. Não era necessário, embora até então eu não soubesse seu nome nem ela o meu. Mais tarde, pensei, haverá tempo pra isso.
Ao chegarmos ela pediu pra usar o telefone. Acendi umas velas perfumadas, pus um CD pra tocar e fui preparar um drinque pra nós. Ao retornar à sala encontrei-a recostada no sofá, sem sapatos, blusa ligeiramente entreaberta revelando um colo lindo. Sentei-me ao seu lado, ela ignorou o drinque que lhe ofereci. Abraçamo-nos carinhosamente e trocamos um longo beijo. Lentamente, ao som de Mozart e sob a tênue luz das velas fomos nos entregando mutuamente, até sermos um só. E começamos uma jornada de amor, sem pressa nem reservas, rumo a uma galáxia distante, cercados de estrelas...
Na manhã seguinte, quando despertei, ela já se fora. Sem uma palavra sequer, ou um bilhete de despedida, sem nome, sem telefone, nada. Ela se foi silenciosamente e envolta em mistério. Porquê? me perguntei e não tive resposta.
Nessa mesma noite e em muitas outras, retornei ao bar onde havíamos nos conhecido, na esperança de reencontra-la. Em vão. Durante meses, ao chegar em casa repetia o ritual de acender velas e colocar o mesmo CD pra tocar, servia-me um drinque e deixava outro pronto pra ela e ficava na expectativa de que, de repente, soasse a campainha e quando eu abrisse a porta ela estivesse lá.
Mas ela jamais voltou. Nunca mais a vi.
Dela apenas restou, em minha mente, essa incômoda recordação; nos meus ouvidos, a doçura das palavras por ela murmuradas durante nossa jornada ao paraíso; o perfume na toalha abandonada na pia do banheiro e alguns fios de seu cabelo no travesseiro que acalentou seus sonhos...
E esse silêncio, que me ensurdece. E essa insuportável sensação de vazio que me devasta.
De volta à realidade perguntei-me: ATÉ QUANDO?
Até que um dia eu encontre alguém que me faça esquece-la, alguém que me resgate de vez e que me conduza novamente àquela galáxia distante, cercado de estrelas.
E que, passado esse momento de êxtase, continue ao meu lado, não apenas na manhã seguinte, mas em todas as manhãs de minha vida.”

Era outono em New York, uma tarde luminosa, temperatura amena...

APS/
Fevereiro/84


CONVITE AO AMOR

Ah, se fosse mesmo verdade,
Quando dizes em prosa e verso
Que, dentre poucos, eu mereço
Boa parte do teu coração...
Diz pra mim então, porque foges,
E não segues tua emoção?

Outras vezes também dizes,
Que sentes o muito que te encanto
Então porque nunca me atendes,
Quando mil vezes te chamo...
Pra enxugares meu pranto?

Não creio que fales sério!
Continuas pra mim um mistério
Que por mais que queira e tente,
Não consigo decifrar.

Tu és aquela que seduz e enfeitiça.
E depois se vai por aí, gargalhando,
Zombando daqueles que incendeias
Com os trejeitos e a magia das ciganas...

Diz-me o que queres que eu faça, claramente,
Que te ignores simplemeste, que não sinta
Tua presença constante em minha mente?
Mas como poderia eu fazer isso, de repente,
Se, indefeso, te amo assim, tão loucamente!?

Ou será que queres que eu aceite
Que nada mais somos além de paralelas
Que, lado a lado, caminham como irmãos;
E que depois abra o peito e solte um grito
Quando dizes que essas linhas assim serão
Sempre paralelas, que jamais se encontrarão
Nem mesmo no Infinito?

Não posso, não quero, me recuso e é por isso
Que venho te fazer, aqui e agora,
Um apelo derradeiro:
Vem, minha amada, viver comigo uma aventura.
Vida afora, sem destino, num veleiro.
Vamos viver juntos, um amor verdadeiro.
E verás que o calor do sol vai unir de vez
Os extremos daquelas paralelas.
A suave brisa do mar enternecerá teu coração.
O encanto das estrelas e o poder do luar
Afastarão de ti, pra sempre, teus temores.
E então, sem os grilhões dos teus medos,
Te sentirás livre e pronta,
Pra eternamente ME AMAR..

APS/

CAMINHADA


CAMINHADA


Vim de muito longe, de terras áridas...
Em busca de horizontes.
Como o besouro, sem poder, ousei voar...
Em busca de altitudes.
Naveguei, sem bússola, águas desconhecidas...
Experimentando aventuras.

Vim de muito longe, de terras áridas...
Em busca de meu caminho
E minha identidade...

Vivi etapas distintas ao longo do percurso.
Fui casulo: preso dentro de mim mesmo,
Fui lagarta: rastejei pelo chão,
Fui borboleta: leve e colorida.
Ciclo repetido, tantas e tantas vezes...

Amei muito e fui muito amado...
Abandonei amores e por amores fui abandonado.
Encontros e desencontros, acertos e desacertos.
Experiências, de que não restaram
Nem mágoas, nem rancores...
As terras áridas, cada vez mais distantes...
Como as lembranças:
O pai morto tão cedo, quase não vi.
A infância sofrida, quase não vivi.
A adolescência vacilante, quase perdida.
Responsabilidades precocemente assumidas.
Questionamentos, desejos, angústias, conflitos,
Vacilações, luta sem fim, descaminhos,
Fracassos, vitórias, certezas??? ...

Vim de muito longe, de terras áridas...
Anos e anos, sem fim, se passaram.
Encontrei meu horizonte!
Entrei em minha órbita!
Achei a mim mesmo!

As buscas terminaram, as aventuras também...
AGORA SOU EU MESMO,
ÍNTEGRO E COMPLETO. PRONTO E ACABADO!

ESTOU EM PAZ, ABENÇOADO POR DEUS.

QUEM SOU EU...



Sou um velho e, ao mesmo tempo,
Sou um menino...
Sou masculino e também feminino
Sou na vida um bailarino...
Que dança ao sabor das nuvens
E sob a luz das estrelas
Só te peço que me ouças,
E que me deixes vê-las.
Sou um fraco e um forte,
Sou um puro e um devasso,
Mas me transformo num santo
Se me acolheres
Em teu regaço...
Sou um anjo e um demônio,
Sou rico e sou pobre,
Mas se porventura me amares, te garanto
Que me transformo em um nobre…
Sou bandido e sou herói,
Sou forasteiro, sonhador... errante
Mas se por acaso me quiseres,
Dentre todas as mulheres,
Serei pra sempre,
Teu amante...
Não sou poeta,
Sou atrevido e ousado,
Caprichoso, determinado.
Sempre à busca do resgate,
Que não vem nunca,
E cada dia fica
Mais distante.
Escrevo com sentimento,
A alma solta, velejando,
Se alimentando do meu pobre verso,
Esperando encontrar alguém,
Que com seu amor transforme meu UNIVERSO...